"Se tivesse que escolher entre o poder de escrever um poema e o êxtase de um poema não escrito, escolheria o êxtase. Pois este é uma forma superior de poesia." - Khalil Gibran

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Manel ... by Uma Patanisca


A minha mãe pediu-me que encomendasse ovos caseiros a um sr. feijão que tem galinhas em casa. Nisto dos ovos, nem os homens duvidam, que é sempre melhor o que se tem em casa, do que, o que se compra na rua ;)
Hoje fui "à caça" dos ovos e lembrei-me do Manel... o Manel... (páro, com o olhar distante, como que, a visualizá-lo)...
O Manel é um rapaz cuja idade nunca cheguei a saber mas, que sempre supus, andar nos 30. Da recordação da sua imagem física, sobressai-me a sua magreza, o cabelo esquisito (perdoem-me mas não consegui encontrar outro adjectivo :S) e os dentes... Meu Jesus Cristinho, os dentes... os dentes do Manel, se tivessem nacionalidade, seriam brasileiros de certeza... verdes e amarelos.
Vindo de uma família pobre, o Manel viu-se obrigado a trabalhar cedo. O pai, homem ganancioso, que prefere viver no meio da merda a gastar os trocos, fica-lhe com todo o dinheiro que ganha. O Manel dá o corpo ao manifesto e o pai é que fica com os louros... e, se o Manel arrebita cabelo, o pai logo trata de lho baixar com o cajado no lombo. Não lhe dá dinheiro para nada, nem mesmo para comer. O pobre coitado, tantas vezes, trabalha sem comer.
Uma vez, chegada a hora do almoço, o Manel sacou de 6 pães com 2 ovos estrelados cada um, e um outro, com três ovos lá dentro.
- Oh Manel vais comer esses ovos todos agora? - perguntou o colega - São 13 ovos. Olha que isso faz-te mal!
- Faz mal é não os comer... respondeu o Manel abocanhando, com força, o primeiro pão.
As pessoas queixam-se do Salazar, mas esquecem-se que ainda existem muitos, em muitas casas portuguesas. Têm é outros nomes.
Talvez por causa disso, o Manel é muito contido na presença de outras pessoas, como que se estivesse incutido nele, o "prestar vassalagem" a toda a gente. O Manel discrimina-se a ele próprio... O Manel vê-se como um zero à esquerda, como um Zé Ninguém... Não acredita nele mesmo.
Mas, quando se apanha com um bocadinho mais de confiança, o Manel descontrola-se e abusa. Recordo-me de um antigo colega, estar sempre a picar com ele por causa das mulheres. O Manel não tinha namorada, muito menos esposa mas, quando abordado com o assunto, na teoria, ele sabia-a toda e não negava fogo. Dizia que costumava ir a casa de mulheres da vida, e o colega brincava com ele, dizendo que lhe pagava uma ida lá mas tinha que ver o serviço a ser feito, para acreditar(lol). Um dia, aquando do visionamento de uns trabalhos, fomos ao estaleiro onde andavam a cortar lenha. O tal colega aproximou-se do Manel, disse-lhe qualquer coisa ao ouvido, e só me lembro de ver o Manel, agarrado ao tronco, gesticulando como se estivesse a fazer o tal serviço, na casa das tais mulheres... QUE VONTADE, carago!!!!
O Manel pode não ter nascido muito fino mas, também nunca lhe foi dada uma oportunidade de ser diferente. Estou convencida que, mesmo que agora essa oportunidade surgisse, o Manel não saberia aproveitá-la porque lhe faltam as bases que lhe deviam ter sido transmitidas e, não foram...

Meus amigos a pobreza de dinheiro é muito triste mas, muito mais é, a pobreza de espírito!!!

Um sorriso
Uma Patanisca

1 comentário:

  1. Uma miséria intrínseca é bem pior que a miséria exterior. O raio do Saint não sei das quantas deixou muitas portas por bater. Gostei do post vizinha. Agora a pergunta dos 100 mil dolars: Não será mais feliz aquele que não é porque não conhece ou aquele que conhece e não é por não poder ser feliz? São quase 3 da manhã. Pensa nisso.

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