"Se tivesse que escolher entre o poder de escrever um poema e o êxtase de um poema não escrito, escolheria o êxtase. Pois este é uma forma superior de poesia." - Khalil Gibran

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um levantamento GPS ... I by Patanisca Engenheira


O dia começou com nevoeiro mas adivinhando-se ser um dia de calor.
Uma vez mais, o acordar foi uma tortura. O telemóvel despertou, pus a cabeça fora dos lençóis, qual tartaruga a sair da sua carapaça, e os meus olhos entraram em contacto com os primeiros raios de sol. Aaaaaaaaahhhhhhh cheguem-se para lá malvados, que as minhas vistinhas fazem-me falta! Um espreguiçar gostoso, um agarrar a almofada em jeito de despedida e... "MEU DEUS AS HORAS!!!!"... não queria acreditar, o telemóvel já tinha tocado 2 vezes sem eu ter dado conta... "ESTOU ATRASADA!!!!!"
Dei início à operação "Despacha-te que se faz tarde". Saí da cama num salto e fui logo cumprir o primeiro ritual de todos os dias: música. "Preciso de energia", pensei e, escolhi "Rebellion (Lies)" dos Arcade Fire em volume máximo. Corri para a casa de banho, aprontei as coisas para o duche, de gás aproximei-me do roupeiro e escolhi a roupa; não foi difícil, em dias de levantamentos GPS é apenas uns jeans, uma t-shirt e as botas do monte. Volto num ápice para o duche, gritando "Everytime you close your eyeeeees" acompanhando a música. Depois do banhinho, da higiene oral, do protector solar (que ia andar ao sol) arranjei-me em tempo recorde, entre pulos e gritos que aqueles violinos entranham-se no corpo, e rumei ao meu destino.
Previa-se um levantamento GPS demorado, uma confirmação de área. Já o tinha feito, uma primeira vez, e sabia o que iria custar. O meu colega, um feijão todo jeitoso a quem eu devo imenso por tantos ensinamentos, também tinha trabalho de campo e combinamos que ele me daria boleia até ao local do levantamento e depois me apanharia no regresso. E assim foi...
A manhã ficou muito quente, o sol animou-se com a minha chegada ;) ... acabou por ser um trabalho duro, por entre montes e vales, mas terminei mais cedo do que previsto e dirigi-me ao local onde fiquei de esperar pelo colega.
O caminho até lá, tratava-se de uma subida de mais ou menos 200m completamente sinuosa. Enquanto subia, reparei que três pessoas desciam na minha direcção com algumas cabrinhas e ovelhas e, quando nos cruzamos, pude ver de quem se tratava... Uma senhora já velhinha com a vida do campo marcada no rosto e nas mãos, um garoto com pinta de malandro que trazia na mão uma vara para comandar os animais e, uma senhora de meia idade com Síndrome de Down (como diria o meu amigo leia-se e diga-se "piceleiro", entenda-se "picheleiro", era "mangolóide", "mengolóide" ... não será mongolóide????)
- Bom dia - disse eu.
- Bom dia - respondeu a velhinha. Estava aqui a comentar como a senhora engenheira mexe-se bem no terreno, melhor do que muita gente que trabalha no campo.
- É o hábito - disse eu, com um sorriso acanhado.
- Quem viu isto e quem vê - continuou ela. As máquinas entraram e já mudaram tudo (...)
Enquanto ela falava, a senhora de meia idade mantinha-se serena fitando-me, de cima a baixo, como que avaliando-me.
Por seu lado, o garoto, tinha arranjado um passatempo: bater-me com a vara nas pernas... Era com cada chibatada.... pimba! pimba! pimba!
- Vá garotinho, está quietinho - disse eu com um sorriso forçado, apertando-lhe as bochechas e pensava:" Raio do garoto... vai é varejar os frutos dos tomateiros do teu pai!".
A velhinha continuou a falar incessantemente, o garoto acatou o meu pedido e, quando menos esperava, assim vindo do nada, a senhora de meia idade encarou-me e disse:
- Posso fazer-lhe uma pergunta?
- Claro que sim, esteja à vontade - respondi.
- A senhora dorme sozinha??????
Quando ouvi aquilo nem quis acreditar... "eu não ouvi isto" pensei, mas com um sorriso malandro respondi:
- Por acaso não. Por acaso durmo com a minha irmã.
Ela voltou a encarar-me e em alta voz perguntou:
- E CONSEGUE?????????
Eu encolhi os ombros, franzi o sobrolho e a medo disse:
- Consigo...
E ela grita:
- COMIGOOOOOOOOOOOOOOOOO????????????? - desatando-se a rir à gargalhada e dizendo: - Já apanhei mais uma looooooooooooooooooooooooooool... e continuou: - Agora a senhora também já pode fazer isto mas, se for a um rapaz tem mais piada!
- Sim - disse - estamos sempre a aprender.
Despedi-me daquele trio caricato e fui ao encontro do meu colega feijão. Aposto que já sabem qual foi a primeira coisa que lhe disse ;)

Até uma próxima aventura...

Um sorriso
Patanisca Engenheira

1 comentário:

  1. Ohhh Jubinha Patanisca... é delicioso ler as tuas histórias! A capacidade que tens para descrever os pequenos promenores da vida ( e olha que são mesmo os melhores) é algo que só está ao alcance de uma patanisca destinada a ser estrela (e minha já és... não duvides). Já li Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos e olha que começo a desconfiar onde é que esses pataniscos escritores foram beber todo aquele talento. Que achas da sugestão de dares ao teu conto o nome de "Uma aventura no monte" ...baaaaaaaahhhh... não!!! Depois parecia uma história tipo "Os cinco pataniscos em mais uma aventura, que a malta lia no tempo em que "brincar" com PC's e fazer blogs tão interessantes como este não passavam de sonhos, só vistos nessas gloriosas séries de ficção cientifica.
    Despeço-me com muitos beijos pataniscados e festinhas nessa linda Juba.. hummm com cheirinho a manteiga de Karite hihihihihi

    Beijos - Marquês de Pombal... Rei dos Algarves

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